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O laço do mês de maio é dedicado a conscientização do câncer cerebral, raro e de difícil reconhecimento, pois não há exames de rotina para diagnóstico precoce desse câncer. O alerta fica para constantes dores de cabeça, mudanças comportamentais, perda ou alterações de algumas funções do organismo.
Para entendermos melhor o câncer de cérebro e suas consequências é preciso conhecer pouco mais de como funciona, como é composto e a importância do sistema nervoso central (SNC).
O Sistema Nervoso Central é responsável por receber e transmitir informações para todo o organismo. Podemos defini-lo como a central de comando que coordena todas as atividades do corpo. Ele é constituído pelo encéfalo (composto pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico) e medula espinal, que estão protegidos pelo crânio e coluna vertebral, respectivamente.
O cérebro é a principal parte do sistema nervoso. Ele é responsável por comandar ações motoras, estímulos sensoriais e atividades neurológicas como a memória, a aprendizagem, o pensamento e a fala. Ele é formado pelos hemisférios direito e esquerdo.
O hemisfério esquerdo tem como função o controle do pensamento lógico e competência comunicativa. O hemisfério direito é responsável pelo o pensamento simbólico e a criatividade. As funções do controle da parte motora localizam-se tanto no hemisfério direito quanto no esquerdo. Vale notar, no entanto, que a parte direita do cérebro coordena a função motora do lado esquerdo do corpo e vice-versa.
O cerebelo controla o ato de caminhar, a coordenação e o equilíbrio. Entre o cerebelo e a medula espinal está o tronco encefálico, por onde passam todas as conexões nervosas e tem uma relevância fundamental em funções não só motoras, mas visuais, de deglutição e respiratórias.
Ainda não se sabe ao certo a causa dos cânceres do sistema nervoso central (SNC). Pesquisadores acreditam na possibilidade de alterações químicas que ocorrem no interior das células do cérebro que as tornam cancerosas. Como os demais tipos de câncer, a causa é a anomalia dos genes.
Na maioria dos cânceres dos outros órgãos do corpo, é muito importante fazer a distinção entre tumores benignos e malignos. Infelizmente, no cérebro os tumores benignos podem ser tão prejudiciais quanto os malignos. À medida que crescem, os tumores benignos podem destruir e/ou comprimir o tecido normal do cérebro, causando danos que muitas vezes são incapacitantes e por vezes fatais. Por esta razão, os médicos costumam falar de tumores cerebrais em vez de câncer do cérebro. A principal preocupação com os tumores cerebrais é a facilidade com que podem se disseminar para a medula espinhal ou no próprio cérebro.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do biênio 2018/2019, sejam diagnosticados 11.320 novos casos de tumores cerebrais/sistema nervoso central no Brasil. Apesar de ser extremamente agressivo, a probabilidade de uma pessoa desenvolver um tumor cerebral maligno durante sua vida é inferior a 1%.
O câncer cerebral tem tempo de crescimento extremamente variável, podendo ser medido em dias ou até em anos. O que determina se terão comportamento agressivo ou crescimento lento é basicamente o tipo de tumor e seu grau de diferenciação.
Para melhor eficácia do tratamento, é importante saber a diferença entre os tumores que se iniciam no cérebro (tumores cerebrais primários) que podem começar em quase qualquer tipo de tecido ou célula no cérebro ou da medula espinhal. E os tumores que se iniciam em outros órgãos, como pulmão ou mama, e se disseminaram para o cérebro (tumores cerebrais metastáticos).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os tumores cerebrais e da medula espinhal em 4 graus, com base no crescimento das células:
Geralmente crescem lentamente e não se infiltram nos tecidos adjacentes. Eles podem muitas vezes ser curados com cirurgia.
Também tendem a crescer lentamente, mas podem se infiltrar nos tecidos cerebrais adjacentes. Costumam a reaparecer após a cirurgia de remoção tornando-se mais agressivos com crescimento rápido.
Crescimento relativamente rápido, podendo crescer no tecido cerebral adjacente. Seu tratamento exige outros procedimentos além da cirurgia.
São os tumores de crescimento rápido e que precisam de um tratamento mais agressivo.
Os sinais e sintomas dos tumores cerebrais podem ocorrer gradualmente e se agravar ao longo do tempo ou podem acontecer de repente, como uma convulsão. Os tumores localizados em qualquer parte do cérebro podem causar aumento da pressão dentro do crânio, conhecida como hipertensão intracraniana. Isto pode ser causado pelo crescimento do tumor, inchaço no cérebro ou bloqueio do fluxo do líquido cefalorraquidiano (LCR). O aumento da pressão também pode levar a outros sintomas como: dor de cabeça, náuseas, problemas de equilíbrio até alterações na personalidade ou comportamento.
Os tumores cerebrais muitas vezes causam sintomas específicos de acordo com a área do cérebro comprometida:
Alteração do comportamento e humor, com perda de iniciativa e fraqueza.
Perda de memória visual e verbal, dificuldade na fala.
Alterações na linguagem.
Alteração na sensibilidade e/ou formigamentos de partes do corpo. Eventualmente associada à desorientação espacial.
Falta de coordenação motora e desequilíbrio.
Visão dupla e deficiências visuais.
Movimentos anormais e posicionamento anormal do corpo.
Alterações nos nervos cranianos e na movimentação dos membros, dormência na face e nos membros, dificuldade na fala e na deglutição.
A combinação de um ou mais sintomas descritos acima, não significa ter um tumor cerebral ou na medula espinhal. Apresentando quaisquer alterações, consulte um médico especialista para que a causa possa ser investigada e diagnosticada.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostra que o vírus da zika é capaz de infectar e matar as células de tumores cerebrais com grande eficácia, sem causar danos às células saudáveis. De acordo com os autores da pesquisa, publicada na revista científica Cancer Research, da Associação Americana para a Pesquisa do Câncer, os resultados sugerem que, no futuro, vários tipos de tumores agressivos do sistema nervoso central poderiam ser tratados com algum tipo de abordagem envolvendo o uso do vírus da zika.
Estudos anteriores já haviam mostrado que o vírus da zika tem uma grande afinidade por células do sistema nervoso central, em especial as células-tronco neurais, que dão origem aos neurônios. As células que compõem esses tumores têm características semelhantes às das células-tronco neurais e estão ligadas ao processo de disseminação do câncer – a metástase. O estudo mostrou que o vírus da zika de fato possui afinidade com as células do sistema nervoso central, infectando e matando as células tumorais de forma seletiva.
O estudo brasileiro também mostrou que depois de atacar as células-tronco tumorais, o vírus da zika não consegue se reproduzir com eficiência – o que evitaria que os pacientes tratados contra o câncer ficassem doentes com a infecção viral.
O fato do vírus da zika não afetar os neurônios maduros é crucial do ponto de vista da segurança, já que a destruição de neurônios saudáveis seria uma barreira para o uso do vírus em uma futura terapia contra o câncer cerebral.