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CRISPR

CRISPR: restaurar a visão, curar doenças do sangue e muito mais (es)

Novos ensaios clínicos estão em andamento na tratativa de cura de algumas doenças através do CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats), uma técnica que edita o DNA nas células

A grande maioria dos medicamentos existem para tratar apenas os sintomas da doença, e não a sua causa. Entretanto a tecnologia de edição de genes, que permite aos cientistas ajustar o DNA, pode levar a curas definitivas em um futuro não muito distante.

Pelo menos essa é a promessa do CRISPR, uma poderosa ferramenta de edição de genes que pode revolucionar a medicina. Em 2013, cientistas publicaram o primeiro estudo usando o CRISPR para cortar e colar DNA em células humanas vivas in vitro em um laboratório. Agora, algumas empresas de biotecnologia estão testando essa ideia em pacientes humanos. A saber, os principais países a usarem desses ensaios clínicos usando CRISPR estão em andamento nos Estados Unidos, Alemanha e China.

Em conclusão, a grande vantagem do CRISPR está em sua capacidade de extrair fragmentos errados do código genético ou substituir completamente os genes. Para os primeiros ensaios clínicos, cientistas tentarão trocar genes não funcionais por novos. Todavia, é uma tarefa complicada que provavelmente levará mais alguns anos de testes em animais no laboratório antes de ser testada em pessoas.

Apesar do fervor em torno do CRISPR, que desencadeou o surgimento de uma série de startups nos últimos seis anos, incluindo CRISPR Therapeutics, Editas Medicine e Intellia Therapeutics – interessadas em comercializar a técnica, estudos iniciais demonstram a abundância de cautela a serem tomadas por não se saber das consequências reais dessa edição genética. A princípio, o CRISPR será usado apenas no olho ou em células fora do corpo. Desse modo, garante que os tratamentos sejam seguros e não causem estragos em outras partes do genoma.

Restaurando a visão

A empresa Editas Medicine em parceira com a farmacêutica Allergan anunciou em julho de 2019 que em breve testarão o CRISPR em pacientes com uma forma hereditária de cegueira chamada amaurose congênita de Leber. Em resumo, quem nasce com essa condição sofre severa perda de visão que começa na primeira infância, e, alguns deles, ficam completamente cegos. Em virtude de uma mutação, o gene CEP290 faz com que os fotorreceptores – células sensoriais de luz que possibilitam a visão – se deteriorem com o tempo. A princípio, a terapia será injetada em cada olho atrás da retina. Dessa forma, acredita-se que essa abordagem reparará os fotorreceptores restantes e restaurará a visão.

O estudo será o primeiro uso in vivo do CRISPR em humanos – o que significa que a terapia será injetada diretamente no corpo.

O olho é um bom ponto de partida, pois exige uma dose muito pequena. Também há pouco risco de a terapia viajar para outro lugar do corpo. Isso é importante, porque um dos riscos mais claros do CRISPR é que ele pode inadvertidamente fazer edições em uma parte do genoma que não deveria – conhecido como efeitos fora do alvo.

Cura de doenças do sangue através de CRISPR

A CRISPR Therapeutics, que fez parceria com a Vertex Pharmaceuticals, iniciou seu primeiro teste em humanos na Alemanha em agosto passado. Os estudos feitos são para editar células fora do corpo em um laboratório e, em seguida, devolver essas células modificadas aos pacientes, na esperança de curá-las efetivamente. O objetivo é tratar um distúrbio sanguíneo chamado beta talassemia. No entanto, no início deste ano, CRISPR Therapeutics iniciou outro teste nos Estados Unidos para tratar a doença das células falciformes, outro distúrbio relacionado ao sangue. A princípio estão em tratamento um paciente na Alemanha e um nos Estados Unidos. Cerca de 15.000 pessoas na Europa têm beta talassemia e cerca de 100.000 nos Estados Unidos – sua grande maioria afro-americanos.

Os pacientes com beta talassemia dependem de transfusões sanguíneas regulares, normalmente realizada a cada duas semanas. Um comunicado divulgado à imprensa em julho, afirma que o paciente com beta talassemia na Alemanha desde o início do tratamento, realizado a quatro meses, não precisou de transfusão de sangue desde então.

Como ambas as doenças podem ser fatais e causadas por erros no gene que produz a hemoglobina, por isso o tratamento dessas duas doenças são feitos da mesma maneira. Todo mundo nasce com um gene da hemoglobina fetal que é desligado após o nascimento. Em ambos os ensaios clínicos, os pesquisadores usam o CRISPR para excluir um código genético, que ativará novamente esse gene fetal nas células-tronco do sangue do paciente. A terapia é semelhante a um transplante de medula óssea – que substitui células-tronco do sangue por células saudáveis de um doador – com uma etapa extra adicionada. Assim, em vez de usar células-tronco coletadas da medula óssea de um doador, é extraído células-tronco da medula óssea do próprio paciente. São editadas com o CRISPR em um laboratório e transplantadas de volta ao paciente. Ou seja, a ideia é que as células-tronco editadas retornem à medula óssea, onde começarão a produzir glóbulos vermelhos saudáveis.

Essa abordagem de editar as células fora do corpo ajudará a minimizar os riscos potenciais do CRISPR. Pois, permite observar se as edições foram eficazes antes de reintroduzir essas células nos pacientes.

Sobrecarregando as células T contra o câncer

A startup Tmunity, da Filadélfia, está testando o CRISPR para certos tipos de câncer. A empresa está conduzindo um ensaio clínico na Universidade da Pensilvânia. Em maio, os dois primeiros pacientes – um com mieloma múltiplo, um tipo de câncer no sangue e outro com sarcoma, que ocorre nos ossos e tecidos conjuntivos – receberam a terapia. Contudo a empresa ainda não forneceu nenhuma atualização sobre as condições dos pacientes tratados.

A abordagem também faz a edição das células fora do corpo. No entanto, nesse caso, utiliza-se as células T do paciente – um tipo de célula imune. Então pelo CRISPR remove-se dois genes das células T e ativa-se um terceiro, sobrecarregando-os contra o câncer. Para então, as células serem novamente infundidas no paciente. O procedimento é semelhante à terapia com células T CAR.

O futuro do CRISPR

Por mais promissores que sejam os ensaios do CRISPR, provavelmente levará meses ou anos até que tenhamos certeza se alguma dessas terapias é realmente eficaz e duradoura. E antes que o CRISPR possa ser usado de maneira mais ampla na medicina, os cientistas precisarão fazer muito mais testes para garantir que a ferramenta de edição de genes seja de fato segura.


Texto original: https://onezero.medium.com/scientists-are-using-crispr-in-attempts-to-restore-vision-cure-blood-disorders-and-more-860e4be91fd9