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Ações para reforçar a importância da doação de órgãos, tecidos e medula óssea marcam o mês de setembro no Brasil. Em agosto de 2023, o caso do apresentador Fausto Silva, que recebeu um novo coração, reacendeu a importância deste ato que pode salvar vidas. Neste contexto, a Campanha ‘Transforme-se’ tem o objetivo de aumentar o número de doadores.
Quem doa órgãos pode beneficiar e salvar, pelo menos, dez vidas. Atualmente, o país possui 65 mil pessoas na fila de transplante de órgãos. O mais aguardado é o rim, que conta com mais de 36 mil pessoas na fila, seguido pela córnea, com cerca de 25 mil à espera. Em seguida, vem o fígado, com 2.228 solicitações, de acordo com dados do Ministério da Saúde. O transplante de medula também tem uma significativa fila, com 650 pessoas, a informação é do Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome).
Entre janeiro e junho de 2023, o país registrou 1,9 mil doadores efetivos de órgãos, de acordo com dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). O número é 16% superior ao contabilizado no mesmo período de 2022 e o maior dos últimos 10 anos. O órgão mais doado foi o rim, seguido de fígado e coração. Apesar do número ter aumentado, no ano passado, mesmo após morte encefálica comprovada, cerca de 42% das famílias não concordaram com a doação, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). A cada milhão de pessoas, menos de 20 são doadoras de órgãos, o que aumenta a fila de espera por um transplante. Por causa de dados como esses, campanhas informativas ganham cada vez mais significado.
É possível doar órgãos como o coração, rins, pâncreas, fígado, pulmões e tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical). Já os tecidos são os ossos, córnea, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical. Em vida, pode-se doar um dos rins, metade do pulmão, parte do fígado e a medula. Os demais só podem ser doados com a confirmação de morte encefálica confirmada, geralmente resultante de traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral).
Diversas ações têm o intuito de aumentar a abrangência de potenciais doadores, como a campanha “Transforme-se”. O projeto acontecerá entre os meses de setembro e dezembro e vai contar com uma série de vídeos documentais. Os transplantados contam suas histórias de vida e todo o processo de receber um novo órgão, além de postagens e publicações que visam a conscientização.
Assista ao vídeo oficial da campanha:
A campanha Transforme-se tem o apoio de algumas organizações sociais, entre elas o Instituto do Bem, Instituto Gabriel, Associação da Medula Óssea (AMEO) e Associação Brasileira de Transplantados (ABTX), e busca passar a mensagem de que, por meio da doação, a vida de outras pessoas pode continuar. O ato é também a esperança que renasce para quem está na fila.
Uma das pessoas beneficiadas por um novo órgão e que teve uma nova chance de viver, foi a fotógrafa Priscilla Fiedler. Ela, que sempre teve uma rotina saudável, começou a passar mal, e logo que foi ao médico descobriu que estava com um quadro de anemia, desenvolvida por conta de uma doença renal crônica. Neste momento, ela teve duas opções, a de iniciar o tratamento de cabeça erguida ou se entregar à doença. A segunda opção não passou por sua cabeça um dia sequer.
“Um dia eu estava trabalhando e no outro eu estava no hospital fazendo hemodiálise. Não foi uma doença progressiva em que eu fui fazendo tratamento. Eu descobri de um dia para o outro e foi bastante impactante, mas eu resolvi levar isso e aceitei fazer o tratamento”,
explica Priscila.
Desde o começo do tratamento a fotógrafa passou a integrar a fila do transplante, iniciando assim a espera pela tão sonhada ligação de esperança, que demorou seis meses para acontecer.
“Para quem faz hemodiálise, cada dia é sofrido e, apesar da espera ter sido rápida, para mim, seis meses foram eternos. Acho que ter uma compatibilidade sanguínea mais comum foi primordial”.
Apesar de ser por ordem cronológica, a fila possui prioridades de acordo com a gravidade do caso e a compatibilidade entre doador e receptor. A média de tempo de espera para um rim, que era o caso de Priscilla, é de três a quatro anos, mas a fotógrafa recebeu o transplante bem antes.
“Tem que ter a cabeça fria, porque quando você enfrenta uma doença, você tem que ter em mente que vai dar certo e sempre esperar o melhor, além de tentar levar a vida da melhor forma possível, antes e depois. Eu me preocupo muito mais com a saúde do que antes e faço muitos exames de rotina”, destaca a fotógrafa.
O transplante ocorreu em 2019, e após a cirurgia, uma nova Priscilla nasceu. “Foram diversas transformações, na saúde, na mentalidade e na vida por completo. Tudo aquilo que você pensava antes, você passa a pensar de uma forma diferente e passa a ter uma outra visão do seu dia a dia, além de dar valor a coisas que antes não dava. Muda muito nossa cabeça depois disso”.
Cinco anos depois, Priscilla leva uma vida normal e cheia de esperança. Em analogia ao seu trabalho, a fotógrafa explica que da mesma forma em que ela aumenta a autoestima de diversas pessoas por meio de suas lentes, em sua vida ocorreu da mesma forma, tendo uma verdadeira renovação e novas formas de ver o mundo e todos ao seu redor.
“Quando uma pessoa é doadora de órgãos ela fornece a vida e a esperança para outra pessoa que está esperando na fila. Imaginamos que salvar uma vida é um poder de super-herói, ou de um bombeiro ou um policial, mas você também tem esse poder. É uma decisão para a vida toda, e você tem que se sentir orgulhoso disso”, finaliza a fotógrafa.
Para ser um “doador vivo”, é importante a pessoa apresentar boas condições de saúde, passar por avaliações médicas, ser capaz juridicamente e, principalmente, concordar com a doação. Legalmente, pais, irmãos, filhos, avós, tios e primos podem ser doadores. No caso de doação para uma pessoa que não seja parente, é preciso obter autorização judicial.
Qualquer pessoa é considerada doadora em potencial, pois o que determina a possibilidade de transplante e quais os órgãos e tecidos podem ser doados é a avaliação do corpo. Ela é feita através de exames clínicos, de imagem e laboratoriais no momento da morte. O mais importante é deixar claro para a família o seu desejo de ser doador. No Brasil, o transplante de órgãos só acontece após autorização familiar.
Não podem ser doadores de órgãos somente pessoas com diagnóstico de tumores malignos, doença infecciosa grave aguda ou doenças infectocontagiosas – destacando-se o HIV, as hepatites B e C e a doença de Chagas. Também não podem ser doadores os diagnosticados com insuficiência de múltiplos órgãos, situação que acomete coração, pulmões, fígado, rins, impossibilitando a doação desses órgãos.
Para doação de medula óssea, basta procurar o Hemocentro mais próximo, realizar um cadastro no Redome e coletar uma amostra de sangue (10 mL) para exame de tipagem HLA. Quando surgir um receptor compatível, o doador realiza a doação, que acontece em centro cirúrgico.
Em suma, vale destacar que você não precisa deixar nenhum documento registrado manifestando o interesse em ser doador(a). Contudo, é fundamental conversar com a sua família, pois ela que autorizará o transplante.
Transforme-se, você pode salvar muitas vidas. Doe órgãos!