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O sistema de histocompatibilidade humano (HLA – human leukocyte antigens) está associado com a proteção ou susceptibilidade a várias doenças conhecidas como autoimunes. Da mesma forma, na dermatologia, esse sistema também desempenha um papel importante na patogenia de várias doenças. A força e o tipo de associação variam com a dermatose e, principalmente, com o grupo étnico-racial relacionado.
MHC (major histocompatibility complex) representa a região gênica que codifica as moléculas de histocompatibilidade responsáveis pela apresentação de antígenos ao sistema imune. Na espécie humana, o MHC está localizado no braço curto do cromossomo 6, sendo denominado sistema de histocompatibilidade humano.
A participação de autoanticorpos e da imunidade celular mediada por células T na patogênese de algumas dermatoses e a associação dos genes de antígeno leucocitário humano com o sistema imunológico, também sugerem caráter autoimune para essas condições.
Os genes HLA são altamente polimórficos e possuem inúmeras variantes com mínimas diferenças entre os alelos. Apesar da grande diversidade, alguns desses alelos podem ser únicos e até mais prevalentes numa determinada população. Assim sendo, existem diferenças entre indivíduos de etnias distintas, que tornam a interpretação dos resultados da expressão do HLA numa população muito miscigenada mais difícil. Por isso, as populações de maior diversidade étnica, como o Brasil, possuem maior variabilidade de frequências de alelos para um mesmo locus, especialmente para os genes HLA.
As principais doenças dermatológicas associadas ao sistema HLA são: vitiligo, pênfigo, psoríase, lúpus eritematoso, escabiose, leishmaniose cutânea, hanseníase, paracoccidioidomicose e dermatite atópica.
O vitiligo é doença autoimune poligênica de etiologia desconhecida, caracterizada por perda dos melanócitos epidérmicos, levando à despigmentação cutânea progressiva. Atinge de 0,5 a 2% da população mundial. A prevalência da doença varia consideravelmente entre os diferentes grupos étnicos. Aproximadamente 20% dos pacientes com vitiligo têm pelo menos um parente de primeiro grau com a doença.
Existem relatos na literatura de associação positiva do vitiligo com o antígeno HLA-DR4 e negativa com o HLA-DR3.
Trabalhos apontam diversidades na associação do sistema antígeno leucocitário humano com relação à idade de apresentação, presença de história familiar e manifestações clínicas. O antígeno HLA-DR4 é mais frequente em indivíduos com a manifestação precoce (antes dos 20 anos), enquanto o antígeno HLA-DRw6 é associado com o desenvolvimento tardio. Indivíduos com lesões extensas apresentavam maior frequência dos antígenos HLA-A30 e – Cw6. E para a forma acrofacial da doença, estudos apontam associação do antígeno HLA-DR7.
A psoríase é uma doença inflamatória crônica e recorrente que acomete principalmente pele e articulações. É caracterizada por diferenciação celular alterada e por proliferação exacerbada da epiderme e dos queratinócitos. É um distúrbio com elevada predisposição genética, a prevalência de psoríase é 19 vezes maior em pacientes que possuem parentes de primeiro grau com a doença.
A associação da psoríase com o HLA já é bem estabelecida, por isso os antígenos da classe I HLA-B13, HLA-B17 e sua divisão HLA-B57 e HLA-Cw6 são apontados com forte associação positiva a psoríase em vários estudos.
A presença de HLA-Cw*0602 está associada a psoríase mais grave e de início precoce e foi encontrada em 100% dos pacientes com psoríase gutata. No entanto, apenas 10% dos indivíduos que possuem esse alelo desenvolvem psoríase, sugerindo a participação de outros genes em sua patogênese.
O lúpus eritematoso é uma desordem autoimune com amplo espectro de manifestações clínicas, que vão desde formas cutâneas (LEC) à doença multissistêmica. O lúpus eritematoso discóide (LED) e o lúpus eritematoso cutâneo subagudo (LECSA) são as formas clínicas que afetam primariamente a pele. Ocorre em qualquer idade e sexo, mas atinge predominantemente mulheres em idade fértil numa proporção de 9 mulheres para 1 homem. Tem maior incidência em afrodescendentes e asiáticos. A patologia do lúpus é influenciada por fatores genéticos, ambientais e hormonais. Atualmente o fator genético é considerado essencial para o desenvolvimento da doença.
Os antígenos HLA-B8 e –DR3 têm sido associados ao desenvolvimento do LECSA. Em alguns estudos, o antígeno HLA-DR3 tem sido observado em mais de 50% dos pacientes com LECSA. O antígeno HLA-DR3 mostra associação especialmente com o subtipo anular e com a presença de anticorpos antiRo-SSA. O lúpus eritematoso neonatal também tem sido associado ao antígeno HLA-DR3 materno. Em relação à associação do HLA com o LED, destacam-se os antígenos HLA-A1, -B8, -DR3, -B7 e – DR2 em pacientes caucasianos
Em conclusão, essa associação do sistema antígeno leucocitário humano e essas dermatites não é suficiente para explicar toda a patogênese desses distúrbios. A contribuição de fatores externos também é um ponto importante a se considerar para o desenvolvimento dessas doenças. É importante ressaltar que, apesar de a susceptibilidade estar associada a alguns alelos e a proteção a outros, ser portador de um determinado alelo ou antígeno de susceptibilidade não significa que necessariamente o indivíduo desenvolverá a doença, assim como a presença de um alelo ou antígeno protetor não garante o não desenvolvimento da enfermidade.
Ademais, como os genes do sistema antígeno leucocitário humano são extremamente polimórficos, as diversidades alélicas entre as diferentes populações fazem com que os marcadores estabelecidos para um determinado grupo étnico não possam ser extrapolados para outro.