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transplante de medula

Melatonina pode ajudar a aumentar o sucesso de transplante de medula

A melatonina, hormônio produzido à noite pela glândula pineal, no cérebro, e que tem a função de informar o organismo que está escuro e prepará-lo para o repouso noturno também regula a disponibilidade de células-tronco na medula óssea. A conclusão foi feita por pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), em colaboração com colegas do Instituto Weizmann de Ciências, de Israel, e de outras instituições do exterior com o apoio da FAPESP. O estudo foi publicado na revista Cell Stem Cell.

As Células Tronco e o Transplante

“Na medula, protegidas em um nicho do interior dos ossos, estão células-tronco que dão origem a células do sangue, ossos e tecidos, desde que recebam o estímulo correto. Por essa razão, elas são usadas no tratamento de câncer e outras doenças”, afirma a professora Regina Markus, que participou da pesquisa. “Em transplantes de medula óssea, ela é retirada do doador com uma agulha inserida no osso e injetada no receptor, depois da medula doente ser irradiada e retirada, um processo de alto cuidado, pois a imunidade do paciente está prejudicada.”

A extração para transplante é um processo doloroso, por isso os cientistas buscam formas de mobilizar células-tronco da medula óssea para o sangue, de modo que futuramente seja preciso apenas extrair o sangue do doador e injetar no receptor. “É necessário conhecer a biologia do processo, pois a medula possui cerca de 500 tipos de células diferentes”, observa a professora. “Pesquisas anteriores mostraram a influência da melatonina na mobilidade de células do sangue e dos tecidos, saudáveis e infectados. A ideia era observar os efeitos do hormônio nas células-tronco.”

“Descobrimos que a proliferação e a liberação de células-tronco são menores durante o dia do que à noite, quando essas células são estocadas na medula, e que a melatonina produzida pelo organismo à noite é responsável por essa diferença”, complementa a professora Regina Markus.

“Essa descoberta sugere que o horário da coleta de células-tronco pode influenciar o sucesso de um transplante de medula óssea no tratamento de câncer”, avaliou.

Primeiros Passos Confirmados

Nos experimentos realizados em animais, o receptor teve a medula irradiada e, após sua remoção, foi injetada a medula do receptor. “Quando isso era feito durante o dia, o número de células-tronco no receptor era menor, mas quando era realizado à noite, o número era maior”, diz a professora. A descoberta comprovou a influência da melatonina na estocagem de células pela medula. “À noite, quando era injetada uma substância que bloqueava os receptores de melatonina, havia menos células disponíveis.”

De acordo com Regina, a pesquisa trouxe um conhecimento biológico que permitirá ser extrapolado para um benefício clínico, após novos estudos, que é o aumento da eficiência dos transplantes de medula. “Ao mesmo tempo, surge uma nova hipótese para ser investigada”, aponta. “A questão é saber como a medula percebe a diferença entre claro e escuro. Sabe-se que há influência da melatonina, mas qual a origem desse hormônio? Seria no cérebro, na glândula pineal, trazida pela circulação? E como a melatonina atua na medula?”


Fonte: Jornal da USP