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A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae. Muitas pessoas conhecem a doença pelo nome de lepra e pode ser chamada ainda de doença de Hansen. Ela acomete principalmente a pele e nervos periféricos, podendo levar a sérias incapacidades físicas.
Os números da última análise realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2016, relataram mais de 200 mil novos casos de hanseníase a cada ano, sendo que mais de 12 mil pessoas sofreram deficiências graves.
Cerca de 94% dos casos notificados concentram-se em 13 países e, infelizmente, o Brasil ocupa a segunda colocação no ranking com o maior número de casos, ficando atrás apenas da Índia.
Apesar deste índice já ser motivo de preocupações, a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) alerta que os números reais podem ser de 3 a 5 vezes maior que os dados oficiais.
“Falta diagnóstico, preparo dos profissionais de saúde, estrutura nos serviços de atenção básica à saúde, ensino nas universidades, atenção de autoridades e política estratégica de enfrentamento da doença”
Afirma o presidente da SBH, Claudio Salgado.
Diante desse quadro, a OMS lançou em 2016 a Estratégia Global para a Hanseníase 2016-2020 que tem como propósito a detecção precoce da hanseníase e o tratamento imediato para evitar a incapacidade física e reduzir a transmissão da infecção na comunidade. O objetivo a longo prazo é estabelecer “um mundo sem hanseníase”.
O Brasil é o 2° país no ranking mundial de hanseníase com mais de 30 mil casos por ano |
A Hanseníase é uma doença contagiosa de evolução muito lenta. O tempo de incubação e manifestação dos primeiros sintomas podem levar de 6 meses a 6 anos, com casos de até 20 anos para que isso ocorra.
Os principais sinais e sintomas da hanseníase são:
Se não tratada a hanseníase pode causar lesões severas:
As sequelas da hanseníase podem deixar marcas físicas e psicológicas, ocasionadas pela exclusão social do paciente. Por afetar os nervos periféricos, a mobilidade e coordenação motora são comprometidas, levando inclusive a incapacidades irreversíveis.
A transmissão da hanseníase acontece pelas vias respiratórias, ou seja, o bacilo é eliminado pelas secreções nasais e saliva. A contaminação acontece através da fala, tosse, espirro e beijo. Entretanto a exposição ao bacilo precisa ser prolongada para que a infecção seja transmitida e quase sempre ocorre entre contatos domiciliares. Por isso, quando identificada a hanseníase, todas as pessoas que convivem com o doente devem ser examinadas.
É muito importante saber que o contato com a pele ou objetos não transmite a doença. E após 15 dias de tratamento o paciente não transmite mais a infecção. Este é um dos motivos pelo qual a hanseníase é estigmatizada, levantando um grave e significante problema social.
As sequelas da hanseníase podem deixar marcas físicas e psicológicas, ocasionadas pela exclusão social do paciente |
Há relatos de casos de hanseníase desde 4.000 anos a.C, nos papiros do antigo Egito. Para os hebreus a lepra, como era chamada, era considerada uma maldição, um castigo divino, citada inclusive pela bíblia. O estigma, a discriminação com a doença e com quem sofre a ação em seu corpo, foram construídos pela associação do termo lepra às deformidades causadas ao paciente.
Como não havia cura para a doença, o enclausuramento e a exclusão dos doentes do convívio social eram a única alternativa.
No Brasil, a doença chegou junto com a colonização e instituições como a igreja mantinham os leprosários com o intuito de amparar os doentes, já que não existia uma política de saúde pública.
Foram criadas então as comunidades de leprosos, excluídos e rejeitados. Em 1915, criou-se a Comissão de Profilaxia da Lepra que estabeleceu o modelo isolacionista, consistindo na internação compulsória de todos os doentes de lepra em asilos-colônias.
Assim, o isolamento foi a alternativa encontrada pelo governo federal, que desenvolveu uma política pública para a construção e manutenção de uma grande rede de leprosários em todo país. E nesse contexto, as consequências sociais persistem até agora.
Em 1976, foi formalizada a quebra do isolamento compulsório em leprosários e o termo hanseníase substituiu oficialmente a denominação “lepra” no Brasil, como uma forma de minimizar o estigma do doente e propiciar sua integração à sociedade.
Graças aos avanços da ciência, a hanseníase hoje tem tratamento e cura |
A Hanseníase pode se confundir com outras doenças, principalmente de pele. No entanto, a detecção precoce e o tratamento imediato são as principais armas para evitar a incapacidade física e a transmissão na comunidade.
“Ninguém com lepra precisa ser deixado com deficiência. A doença pode ser facilmente curada com terapia multidrogas se for detectada e tratada com antecedência. O fato de ainda estar acontecendo em 2018 mostra que há atrasos no diagnóstico e falta de acesso a um tratamento de alta qualidade.”
Critica Alice Cruz, nomeada em 2017 como Relatora Especial da ONU na eliminação da discriminação de pessoas afetadas pela lepra e seus familiares.
O diagnóstico da hanseníase deve ser baseado, essencialmente, no quadro clínico. Quando disponíveis, os exames de baciloscopia e biópsia de pele podem ser feitos, mas levando em consideração suas limitações. Hoje ainda há muitas dificuldades e erros no processo de coleta e mesmo na leitura de lâminas.
Quando diagnosticada, todas as pessoas que convivem com o doente devem ser examinadas para eliminar a suspeita de infecção.
O tratamento da hanseníase é realizado através da associação de medicamentos (Poliquimioterapia – PQT) conhecidos como Rifampicina, Dapsona e Clofazimina. Como é um tratamento longo, atualmente a resistência aos medicamentos é um problema que tem causado grande preocupação.
Nesse sentido a biologia molecular ganha cada vez mais importância como um exame de comprovação da infecção pelo Mycobacterium leprae, além de realizar a identificação das mutações que levam à resistência aos medicamentos.
A Hanseníase tem cura. O tratamento consiste na administração de um conjunto de drogas chamado de poliquimioterapia (Rifampicina, Dapsona e Clofazimina). A média de tempo do tratamento é de 6 a 12 meses e deve ser feito até o final para evitar complicações e a resistência.
Os pacientes têm direito a tratamento gratuito pelo SUS, disponível em qualquer unidade de saúde.
O tratamento da Hanseníase é gratuito e oferecido pelo SUS |